Tão jovens que eles eram

 




Confundo sempre...

Também o conhecem?...

Quem terá sido o idiota que começou a primeira "hola" num estádio? Será que algum gajo se levantou a acenar para um amigo que estava no campo e toda a gente o resolveu imitar? Ou terá alguém dito "já sei! podíamos levantar-nos todos sucessivamente, de maneira a parecermos uma onda!".

"A sério, ficava mesmo giro! Foi o Elvis que me ensinou!", dizia ele enquanto era arrastado pelas autoridades.

Todos os dias recebo dezenas de mails. A minha popularidade chega a todos os cantos deste planeta sem cantos, não há dúvidas disso. Ou melhor, a todos os cantos que falam inglês e/ou que enviam mails em inglês. Mas não me escrevem para me pedir conselhos, ao contrário do que seria de esperar; não, escrevem-me para partilhar tudo o que aprenderam, todas as lições que a vida lhes ensinou, tudo aquilo que me possa ajudar no caminho da felicidade (ao passar um navio...), tudo o que me possa ajudar a enfrentar cada dia que passa com um sorriso nos lábios, agradecendo por estar vivo e por tudo aquilo que faz parte do meu mundo estar em perfeito equilíbrio e harmonia, num nirvana que me permita ser tudo aquilo que sempre sonhei, tudo aquilo que sempre desejei.

Essa colaboração chegou a tal ponto que já tenho uma caixa de correio só para essas missivas altruístas que procuram ajudar-me. Em suma, se alguém precisar de informações sobre:

> como obter stocks ilimitados de medicamentos e ficar rico a fazê-lo;
> alterações ao tamanho da respectiva genitália e ficar rico a fazê-lo;
> como pagar todas as dívidas e ficar rico a fazê-lo;
> alterações à forma da respectiva genitália e ficar rico a fazê-lo;
> como ter crédito ilimitado e ficar rico a fazê-lo;
> alterações à cor da respectiva genitália e ficar rico a fazê-lo;
> como viver num apartamento de luxo e ficar rico a fazê-lo;
> dar formação universitária à respectiva genitália e ficar rico a fazê-lo;

estou certo que devo conseguir reunir alguma informação que lhe interesse, assim como uma série de contactos e websites apropriados a ajudá-lo. Já agora, alguém conhece algum filtro para bloquear publicidade no mail?...

Ainda não foi desta

"Se há um problema de saúde pública causado pela lei penal; se esta lei não defende o embrião nem o feto, pois os abortos fazem-se aos milhares; se, consequentemente, a lei penal produz maiores males do que aqueles que diz querer evitar, então é porque a lei não cumpre os seus fins.
(...)
Uma lei com a qual o Estado se torna fautor de violência contra as mulheres. Que se vêem forçadas a recorrer à interrupção da gravidez, independentemente da classe social, convicção religiosa e política. E só há uma solução. Legalizar a interrupção da gravidez quando efectuada no 1º trimestre, por decisão da mulher. Não há outras alternativas, que são falsas alternativas, porque mantêm a clandestinidade e a insegurança do aborto e não resolvem o problema de saúde pública. Não são alternativas, pois continuam a pressupor a culpa das mulheres soluções adiantadas das bandas do CDS que chegou a admitir (...) uma espécie de lapidação em praça pública das mulheres que abortassem. Basta de penas infamantes.
(...)
Afirma-se, com despudor, que onde se despenaliza a IVG, aumenta continuamente o número de abortos. O que é manipulação de estatísticas. Na base de tal posicionamento está um forte preconceito anti-feminino que outrora animou a tríade Deus Pátria e Família. Porque abortar é um verbo que se conjuga no feminino, reeditam-se argumentos fundados num forte preconceito contra as mulheres... Porque entendem que as mulheres abortam por razões fúteis. Porque continuam a entender, ainda no século XXI, que a mulher não sabe usar da sua autonomia, que não sabe tomar decisões responsáveis.
(...)
Podem classificar-se de fúteis as mulheres que abortam porque (como diz a OMS) são muito novas ou muito pobres para criar uma criança; porque entraram em conflito com os seus companheiros, porque são vítimas de violência, porque estão desempregadas, porque não desejam um filho enquanto não acabarem o curso, porque têm de estar inteiramente disponíveis para o trabalho e têm de trabalhar para a subsistência da família; porque não lhes é garantido um adequado acesso aos serviços de planeamento familiar, porque são insuficientes estes serviços, porque os métodos contraceptivos falharam; porque têm de ver renovado o seu contrato a prazo; porque estão maioritariamente representadas na alta taxa de pobreza de que são vítimas os trabalhadores portugueses? Estas não são razões frívolas.
(...)
Porque existindo uma relação inequívoca de causa e efeito, entre as leis proibitivas da IVG e aquelas consequências, a solução é legalizar, única forma de tornar o aborto seguro. Assim se respeitando a dignidade e os direitos humanos da Mulher. O direito à maternidade consciente, logo, direito a uma gravidez desejada e planeada. O Direito ao livre desenvolvimento da sua personalidade. O direito à liberdade de decisão. O direito à vida e à liberdade. O direito à segurança. O direito à dignidade. Não é Portugal um Estado de Direito Democrático fundado na dignidade da pessoa humana?
(...)
Ora, constatadas as diversas opiniões sobre o início da pessoa humana, não pode, um Estado de Direito, tomar parte na querela, impondo a toda a população, as concepções filosóficas e religiosas de alguns. Isso é característico de um Estado autoritário.

É tão simples quanto isso."

Odete Santos, deputada do PCP, no debate desta tarde no Parlamento

Fim de Tarde


Vila Nova de Cerveira, 28.12.03

Sempre me disseste que era do fim de tarde que gostavas mais. Não da noite, não do dia, mas sim desse momento em que o fim e o início se confundem e diluem em tons quentes. Quando via o pôr-do-sol do cimo desta montanha, lembrava-me sempre das tuas palavras, da forma como descrevias a esperança que envolvia o momento em que o sol tocava o horizonte. “A noite vai ser melhor que o dia” dizias sempre, mas no fundo o que te mantinha viva era a expectativa e não o momento – porque a felicidade não se sente, espera-se. E sim, tu eras feliz enquanto esperavas a noite, eras feliz porque a esperavas. Mas a noite era sempre igual ao dia, uma sucessão de cores e formas desfocadas que não conseguias identificar. Nessas alturas choravas baixinho e eu, mesmo longe, era capaz de sentir o teu tom salgado. Sei que acabavas por adormecer e nos teus sonhos a noite nunca chegava e o dia nunca acabava – era sempre, sempre fim de tarde.
Texto: Nô




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