2ª Actualização


O Correio da Manhã continua a defender que se trata de um Rottweiler, enviando uma mensagem clara a este estabelecimento e ao periódico Sol: "Ah ah, nós sabemos escrever Rottweiler e vocês não." Chamo a atenção para o pormenor da dramatização do ataque que se acrescenta à notícia, representando três rottweilers que atacam uma mulher de ascendência algures entre o Japonês, o Albino, e o Espantalho.

Actualização

Continuamos a acompanhar o estranho caso do Cão com dupla personalidade, quando são 1h do dia seguinte ao ataque.


Parece ter sido finalmente confirmada a verdadeira identidade do cão, depois de contactados vários irmãos da mesma ninhada e o Serviço de Fronteiras de Pedigree da Alemanha.


A Lusa acrescenta ainda um dado novo, revelando que o cão estava em estado grave quando atacou. Afinal sempre era fofinho, coitadinho, só se estava a defender.


O Sol opta por não entrar na discussão, indicando raças diferentes no título e no texto, mas ainda assim avança que o cão estava apenas livre de perigo. Portanto, não era assim tão fofinho. Eu sabia.


A TSF teve, obviamente, acesso à minha teoria e reforça-a, associando esta notícia a um ataque de um Pitbull ocorrido no Algarve. Inicialmente pensou-se que o Pitbull fosse um Chiuaua, descobrindo-se posteriormente a verdadeira identidade do animal.
Será importante indicar que Totó, representado na foto pela TSF, já veio a público desmentir a sua ligação a este caso, argumentando que estava envolvido numa desbastação de unhas à hora do ataque.

Dentadura



Viajar de carro durante várias horas leva-me a ouvir notícias dadas por emissoras diferentes; caso nunca se tenham apercebido, as notícias que as rádios dão são, basicamente, as mesmas durante todo o dia. A não ser que aconteça alguma coisa nova entretanto, que passará a ser a primeira notícia. Mas as seguintes continuarão iguais, quer no texto quer no comentário gravado do jornalista designado para aquele caso específico. Comentário esse que parecerá, sempre, ser feito em directo e com grande risco por parte do jornalista. Regra geral, há sempre um esforço por não dar a entender que depois de gravar aquela notícia, o jornalista em questão já almoçou, mudou o óleo ao carro e plantou uma árvore. Porque o importante é que o ouvinte ache que aquele jornalista parou tudo o que estava a fazer, à hora certa, para lhe dar, àquele ouvinte específico, a notícia, passando então a ser a responsabilidade do ouvinte passar a palavra porque, naturalmente, foi o primeiro a saber.

Portanto, opto por ouvir as mesmas notícias mas ditas de maneira diferente. Hoje, a consequência disso foi uma mulher ter sido atacada por um cão da raça Doberman na Antena 1, enquanto que na TSF a mulher tinha sido já, claramente, atacada por um cão da raça Rotweiller. Isto cria em mim uma série de receios.

O primeiro, o menor, está relacionado com o hábito de ter cãezinhos fofinhos como são, por definição, os Doberman e os Rotweiller. Considerando que os cães costumam ser utilizados em anúncios de produtos de higiene e limpeza, os Doberman e os Rotweiller são, claramente, suficientemente fofinhos para serem a cara de uma marca de papel higiénico. Um papel higiénico com espinhos e ácido sulfúrico. Parece-me que esse produto estaria ao nível da fofice de um Doberman ou de um Rotweiller. Mas o que acho mais estranho é mesmo a necessidade que os donos sentem de justificar o quão fofinhos os seus cães são. “Não, não, ele tem este olhar sanguinário mas é uma doçura de animal, consegues fazer-lhe festas perfeitamente, desde que não estejas na mesma sala que ele” ou “Ahah, não te preocupes, este só ladra, não morde, a não ser que te mexas. Se te mexeres, arranca-te uma mão como se fosse gelatina, mas se te mantiveres completamente imóvel durante uns minutos não te faz nada.” são frases de quem, parece-me, não está completamente convencido da abrangência da fofice do seu animal. Não vejo porquê, já que quando uma pessoa olha para um Doberman ou para um Rotweiller, associa imediatamente a coisas fofinhas como “algodão-doce”, “campos de flores” e “SANGUE”. Portanto, que alguém tenha em casa um cãozinho assim, fofinho, é uma coisa que me preocupa.

O meu segundo receio em relação a este caso tem a ver com a imigração ilegal de caninos. A única explicação que encontro para a disparidade de versões entre as duas rádios é que o dito animal possuísse identificação falsa. Claramente, cada uma das rádios teve acesso a um dos passaportes que o animal transportava, o que gerou o desencontro de opiniões. Como é sabido, ambas as raças são originárias da Alemanha, o que terá facilitado a distribuição da documentação falsa; ainda assim, será preocupante pensar que este poderá ser um indício de um mercado paralelo de documentação canina falsificada, em que certas raças se farão passar por outras, quais lobos em pele de cordeiros, para depois controlar o mundo.

É urgente que se proceda a um sistema de protecção da identificação canina, para que se possam evitar confusões como a de hoje e para que cada família saiba que não é normal o seu Cão d’Água chegar aos armários de cima da cozinha.


"O meu nome é Florzinha, gosto de festinhas, bolinhas de borracha e de SANGUE."

Imagem fofinha do cãozinho é daqui

Hoje comemoramos a liberdade. Mas não nos iludamos, camaradas! Os sinais de que ainda há muito trabalho pela frente rodeiam-nos. Repare-se no final deste artigo da edição online de hoje de um jornal diário que por razões óbvias, não identificarei. Vou só dizer que não é Privado. Portanto, é... vá lá, não é difícil. Se não é Privado, é...

Pronto, é o Público. É da edição online do Público.



Reparem nas opções para comentar o artigo.

Achas interessante? Óptimo.
Não achas? Pias baixinho. Se é que não queres arranjar problemas. Xô.

Eu, Estenose

"Conheci o Jorge Nuno numa noite no serviço de urgências do Hospital de S. João (...) ele às vezes tratava-me mal, ameaçava-me com alimentação saudável, com legumes, vegetarianismo (...) quando ele me disse que tinha uma missão para mim, nunca me ocorreu que fosse esta (...) nunca quis magoar ninguém, mas achei que tinha de fazer isto (...) agora quero que toda a gente saiba quem foi o verdadeiro culpado..."

(Extractos de uma entrevista à placa retirada da artéria carótida interna esquerda de Eusébio)

Noguetes

Assisti há uns dias a uma cena peculiar num restaurante de uma cadeia bastante popular, que me fez pôr em questão, pelo menos parcialmente, os meus preconceitos sobre as pessoas que aceitam esse tipo de empregos.

Claro que haverá sempre gente que não tem outra hipótese. Mas esses não me interessam. Sobre esses é mais difícil fazer piadas, não gosto.

Portanto, esclarece-se desde já que abordamos aqui as pessoas que OPTAM por esse tipo de empregos. Até hoje, considerei sempre que quando a inteligência e a capacidade de concentração estavam a ser distribuídas, essas pessoas estavam de costas a pedir mais dois frangos, por favor. Atenção: apenas difiro desta definição porque à minha inteligência débil e à minha capacidade de concentração, que é aproximadamente igual à de uma truta, junto níveis extraordinariamente elevados de preguiça e falta de iniciativa, razões que impedem que me candidate a um emprego desses.

Assisti então a uma pequena acção de formação, de um empregado “sénior” (uso as aspas porque parecia ter idade para festejar “ena, ena, mais dois meses e já posso tirar a carta”) a uma nova funcionária do restaurante. O tema: atendimento ao cliente. Que, tive essa revelação agora, tem mais nuances do que se poderia imaginar. Essa foi uma das revelações, a outra foi de que esses funcionários, na verdade, têm dúvidas sobre si mesmos e sobre o que os rodeia, e põem o sentido do mundo em questão.

Para já, há todo um ritual de preparação de um tabuleiro. Mentes inaptas e infelizes atrever-se-iam a considerar que se trata apenas de pôr um papel em cima de um tabuleiro, mas não; há uma técnica. “Vês? É daqui que tiras o tabuleiro e é assim que pões o papel no tabuleiro.” Naturalmente, em texto torna-se mais difícil de exemplificar. Mas percebem pelo bold que há um ênfase em certos movimentos que é indispensável, e que só os anos de prática levam à perfeição. Como que de uma dança se tratasse, ao som daquele apito irritante da máquina de fritar batatas. Será assim tão difícil alguém ter tempo para desligar a máquina quando aquele apito começa a soar? Quer dizer, das pessoas que estão na fila, ninguém trabalha lá, e no entanto toda a gente sabe que as batatas estão prontas. Menos as pessoas que têm cargos no restaurante.

Mas a principal questão vem a seguir. “Pões a palha…” [uma nota: não consigo neste momento precisar se o termo usado foi “palha” ou “palhinha”. Não vou, no entanto, usar o diminutivo, porque se trata de um momento de uma certa solenidade] “… e dois guardanapos.”. E aqui é que a porca torce o rabo. Porque se até aqui tudo estava a fazer sentido para a pobre novata, neste momento todas as suas crenças se desmoronaram. “A patroa disse para pôr três.”. Note-se que há uma certa segurança neste desafio ao formador, mas não é uma segurança arrogante. É só a segurança de alguém que não quer quebrar cadeias hierárquicas, e que tinha ordens superiores para colocar três, e não dois, guardanapos no tabuleiro.

A tensão daquele momento sentiu-se em todo o balcão. Só a experiência do empregado “sénior”, certamente já com várias acções de formação idênticas no currículo, lhe permitiu fintar a questão, afirmando “Não, pões dois, e se o cliente quiser, pões mais.”. Deves estar muito orgulhoso, deves, a atirar a responsabilidade para o cliente. Felizmente a novata não se deixou convencer, olhando de soslaio o monte de guardanapos. Algo naquela testa franzida disse “tá bem, tá. A patroa disse três e eu três porei.”. Era uma testa particularmente expressiva.

Percebi então que há duas correntes filosóficas em constante divergência naquele restaurante. Por um lado, os Naturalistas. Pessoas que defendem que o papel deve ser poupado, e que só um cliente selvagem e sem qualquer noção de reciclagem exige o terceiro guardanapo. Por outro, os Descrentes. Aqueles que sabem com quem lidam, observando em silêncio a degradação dos costumes que os fita do outro lado do balcão. “Olho-te nos olhos e percebo a tua decadência; entregar-te-ei os três guardanapos três, sim. Os três guardanapos três em que esvairás fluidos tipo ketchup e isso, até ao dia em que o poder te abandonará. Já leste o Triunfo dos Porcos? Ah, pois. Tu és um dos porcos. Nunca leste? Eu também não. Mas acho que os porcos se arrependem, ou qualquer coisa assim. E tu vais-te arrepender, portanto, és um dos porcos.” Isto não resulta se houver vestígios de carne de porco no hambúrguer. Passa a ser uma metáfora de canibalismo, e tem menos força.

Portanto, da próxima vez, contem os vossos guardanapos. Podem descobrir muito sobre o que se passa nos bastidores de um restaurante.

Fusíveis e Borba



Fixemo-nos por momentos neste anúncio de uma marca de louças sanitárias. Louças, sim. As loiças ficarão para outro dia; tenho uma óptima história sobre um toiro numa loja de loiça. É uma história que é uma riqueza, um autêntico tesoiro.

Distraímo-nos. Voltemos então a fixar-nos no anúncio. Parece tudo em ordem. Louças para todos os gostos, de linhas simples e actuais. Até aqui tudo bem. Concentremo-nos então numa parte do anúncio que me intrigou.



Aqui, perderam-me. Quer dizer, eu até sou uma pessoa que deixa acumular várias pilhas de livros e revistas na casa de banho.

Por falar nisso, escreve-se casa de banho ou casa-de-banho? Sempre tive esta dúvida. Isto já para não falar da eterna questão casa de banho/quarto de banho. Mas só os hífens já me incomodam. Vou à casa de banho. Vou à casa-de-banho. Vou à cas’banho.

Cas’banh.



Distraímo-nos outra vez.

Dizia eu, revistas e livros. Que indiciam visitas prolongadas, mas esta não é a hora nem o lugar para discutir isso. O lugar talvez seja, devido ao nível do que se tem escrito por aqui, mas agora não quero.


(caso alguém não se lembrasse já da imagem)

Nunca fui pessoa de ter garrafas de vinho nas instalações sanitárias. Por todas as razões e mais algumas, todas elas relacionadas com a incompatibilidade entre “beber” e “urina”. Pelo menos na minha formação cultural. Não quero com isto estabelecer juízos sobre pessoas que bebem urina. Só pretendo estabelecer distância. E uma ou outra acção judicial, caso se voltem a aproximar. Mas juízos, não.

Mas acho bonito que uma empresa de louças invista num mercado tão específico como o das pessoas que vão beber para as instalações sanitárias. Atenção, não estamos a falar de pessoas que bebem urina. Não, estamos a falar de gente com nível (bolas, um juízo.) que bebe copos de vinho tinto enquanto se estende no jacuzzi. Por alguma razão, sempre que num filme alguém se estende num jacuzzi 1. tem um copo de vinho tinto e, 2. está sem luz em casa. Talvez as duas estejam relacionadas, não sei. Ai, esqueci-me de pagar a conta da luz, vou acender umas velas e vou para a banheira beber. Tinto.

Talvez tudo isto esteja relacionado com uma fobia de ser electrocutado. Quando estão sem luz em casa, as pessoas que têm fobia a electrocussões podem apreciar verdadeiramente a experiência de se estenderem num jacuzzi. Ou num banho de imersão, que o nível a que me referia não implica necessariamente um jacuzzi, porque nem toda a gente pode ter um jacuzzi. Mas toda a gente pode ter tinto e falta de luz. E sem luz ninguém nos pode atirar um secador ligado para a banheira, enquanto lá estamos estendidos a beber tinto.

Portanto, esta empresa achou que se justificava investir nas pessoas que não querem ter de ir à cozinha buscar uma garrafa de vinho de cada vez que falta a luz. Acho bonito, pá.




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