Fim de Tarde
sergiodiassilva, 1.3.04 0 ComentáriosVila Nova de Cerveira, 28.12.03
Sempre me disseste que era do fim de tarde que gostavas mais. Não da noite, não do dia, mas sim desse momento em que o fim e o início se confundem e diluem em tons quentes. Quando via o pôr-do-sol do cimo desta montanha, lembrava-me sempre das tuas palavras, da forma como descrevias a esperança que envolvia o momento em que o sol tocava o horizonte. “A noite vai ser melhor que o dia” dizias sempre, mas no fundo o que te mantinha viva era a expectativa e não o momento – porque a felicidade não se sente, espera-se. E sim, tu eras feliz enquanto esperavas a noite, eras feliz porque a esperavas. Mas a noite era sempre igual ao dia, uma sucessão de cores e formas desfocadas que não conseguias identificar. Nessas alturas choravas baixinho e eu, mesmo longe, era capaz de sentir o teu tom salgado. Sei que acabavas por adormecer e nos teus sonhos a noite nunca chegava e o dia nunca acabava – era sempre, sempre fim de tarde.
Texto: Nô
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