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Fim de Tarde


Vila Nova de Cerveira, 28.12.03

Sempre me disseste que era do fim de tarde que gostavas mais. Não da noite, não do dia, mas sim desse momento em que o fim e o início se confundem e diluem em tons quentes. Quando via o pôr-do-sol do cimo desta montanha, lembrava-me sempre das tuas palavras, da forma como descrevias a esperança que envolvia o momento em que o sol tocava o horizonte. “A noite vai ser melhor que o dia” dizias sempre, mas no fundo o que te mantinha viva era a expectativa e não o momento – porque a felicidade não se sente, espera-se. E sim, tu eras feliz enquanto esperavas a noite, eras feliz porque a esperavas. Mas a noite era sempre igual ao dia, uma sucessão de cores e formas desfocadas que não conseguias identificar. Nessas alturas choravas baixinho e eu, mesmo longe, era capaz de sentir o teu tom salgado. Sei que acabavas por adormecer e nos teus sonhos a noite nunca chegava e o dia nunca acabava – era sempre, sempre fim de tarde.
Texto: Nô

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