Que a nossa sociedade tende para a preguiça e para o comodismo, já todos sabemos. Quase que podia dizer que começar frases com “que” é um sintoma disso, mas não percebo nada de gramática. Mas há uma característica da Geração SMS que está a evoluir de forma preocupante.

A questão é que – e atribuo toda a culpa às mensagens escritas – estamos a transpor para a fala os actos, reduzindo assim a comunicação a palavras trocadas à distância, e a distância aqui tanto pode ser de um metro como de vários quilómetros, a forma de transmitir as palavras é que se altera.

Já tinha reparado que várias pessoas se despedem actualmente com um “então xau, beijinhos!”, o que é apenas o primeiro sinal da transmissão de gestos/actos para a fala. Hoje despediram-se de mim com um “adeus, pá, um abraço!” enquanto passavam a meio metro de mim.

Ora, parece-me lógica a evolução natural desta situação. A transmissão de gestos para a fala expandir-se-á, reduzindo a movimentação ao mínimo indispensável, ou seja, a necessária para nos deslocarmos de um ponto para outro. Assim, dentro de poucos anos estou certo que duas pessoas que se cruzem na rua terão um diálogo do género do que se segue, sem qualquer tipo de alteração na expressão.

Pessoa 1:
- Olha só quem ele é, um leve aceno cordial e sorriso.
Pessoa 2:
- Um sorriso de surpresa e agrado, que coincidência encontrar-te aqui, um aperto de mão vigoroso!
P1:
- Um olhar atrapalhado para o relógio, pena não poder ficar a conversar, estou atrasadíssimo, um olhar em várias direcções como que procurando alguém.
P2:
- Um abanar de cabeça de compreensão, eu também já devia estar a trabalhar, uma ligeira gargalhada a simular vergonha.
P1:
- Um riso ligeiro de concordância, temos de combinar qualquer coisa um dia destes, um olhar de falta de vontade de concretizar a ideia.
P2:
- Um assobio de atrapalhação com horários, isto está complicado mas liga-me um dia destes e tentamos combinar, sorriso de alívio por nunca te ter dado o meu novo contacto.
P1:
- Então xau, beijinhos!
P2:
- Adeus, pá, um abraço!

6 Resposta(s) a “Um Título Inventado à Pressão”

  1. # Blogger Dama do Oriente 7:50 da tarde

    Voltaste a escrever!! :))))  

  2. # Anonymous Anónimo 12:44 da tarde

    Dá-lhe uns caracteres! :)  

  3. # Anonymous Anónimo 9:28 da tarde

    muito bom pa...continua  

  4. # Blogger cristina amil 4:45 da tarde

    Eu acho que este texto ficaria muito bem enquadrado num livro da disciplina de Português. A importância da comunicação. Ou num livro qualquer de dramaturgia da comunicação humana.
    As aulas tornar-se-iam muito mais interessantes e esclarecedoras (não que eu alguma vez tenha tido algo contra as aulas de ambas disciplinas).  

  5. # Blogger cristina amil 1:36 da tarde

    Este comentário foi removido pelo autor.  

  6. # Blogger cristina amil 1:39 da tarde

    Estive a pensar neste texto.. já que estamos numa era de linguagem tão avançada, o "Um riso ligeiro de concordância" pode ser substituido por um "lol", e por aí fora.. é que eu já vi mesmo isto a acontecer!

    P.S. o último comentário foi removido por mim por estar em duplicado.  

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