Que a nossa sociedade tende para a preguiça e para o comodismo, já todos sabemos. Quase que podia dizer que começar frases com “que” é um sintoma disso, mas não percebo nada de gramática. Mas há uma característica da Geração SMS que está a evoluir de forma preocupante.

A questão é que – e atribuo toda a culpa às mensagens escritas – estamos a transpor para a fala os actos, reduzindo assim a comunicação a palavras trocadas à distância, e a distância aqui tanto pode ser de um metro como de vários quilómetros, a forma de transmitir as palavras é que se altera.

Já tinha reparado que várias pessoas se despedem actualmente com um “então xau, beijinhos!”, o que é apenas o primeiro sinal da transmissão de gestos/actos para a fala. Hoje despediram-se de mim com um “adeus, pá, um abraço!” enquanto passavam a meio metro de mim.

Ora, parece-me lógica a evolução natural desta situação. A transmissão de gestos para a fala expandir-se-á, reduzindo a movimentação ao mínimo indispensável, ou seja, a necessária para nos deslocarmos de um ponto para outro. Assim, dentro de poucos anos estou certo que duas pessoas que se cruzem na rua terão um diálogo do género do que se segue, sem qualquer tipo de alteração na expressão.

Pessoa 1:
- Olha só quem ele é, um leve aceno cordial e sorriso.
Pessoa 2:
- Um sorriso de surpresa e agrado, que coincidência encontrar-te aqui, um aperto de mão vigoroso!
P1:
- Um olhar atrapalhado para o relógio, pena não poder ficar a conversar, estou atrasadíssimo, um olhar em várias direcções como que procurando alguém.
P2:
- Um abanar de cabeça de compreensão, eu também já devia estar a trabalhar, uma ligeira gargalhada a simular vergonha.
P1:
- Um riso ligeiro de concordância, temos de combinar qualquer coisa um dia destes, um olhar de falta de vontade de concretizar a ideia.
P2:
- Um assobio de atrapalhação com horários, isto está complicado mas liga-me um dia destes e tentamos combinar, sorriso de alívio por nunca te ter dado o meu novo contacto.
P1:
- Então xau, beijinhos!
P2:
- Adeus, pá, um abraço!




© 2007 ao meu encontro na estrada | Blogger Templates by GeckoandFly.